segunda-feira, 11 de abril de 2011

Portal Lia Line 05 - De perto ninguém é normal.

Assisti ontem ao primeiro episódio da nova temporada da minha série favorita: “United States of Tara”, que mostra a vida de uma mãe americana incrivelmente interpretada pela Toni Collette e sua adorável família vivendo no Kansas.Tudo muito tranqüilo, muito normalzinho se não existissem alguns detalhes.
Começando: Tara sofre de Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI) – um negócio que a gente conhece como ‘múltiplas personalidades’, coisa séria mesmo, doença pra tratar com remédio. Não vamos confundir com aquela habilidade que seu ex-namorado ou aquela moça do escritório têm em transformar-se completamente em seres diferentes de acordo com a necessidade da situação. Isso aê é ser MUITODOCARADEPAU, ou bem safado mesmo. O TDI é uma condição mental onde um único indivíduo demonstra características de duas ou mais personalidades ou identidades distintas, cada uma com sua maneira de perceber e interagir com o meio (beijo, Wikipedia!).
Continuando: logo no começo da série a gente percebe que a família da protagonista ta longe de ser bem normal. Até aí, tudo certo, vamos combinar que família e normalidade são duas palavras que não interagem muito bem. E que família, normalidade e mãe-que-se-transforma-em-uma-pá-de-gente-diferente-de-vez-em-quando, não tem mesmo como funcionar. Tirando o marido, que meu povo, é um santo homem (além de ser um escândalo, feito pelo mesmo ator que foi o Aidan – o bofe fofo e másculo que quase casou com a Carrie no Sex and the City), é todo mundo meio ‘diferente’. A filha é um bocadinho biscate, o filho ta tentando decidir se é gay, se não é, se é um pouco de cada... Tara tem uma irmã gente fina, mas meio mentirosa, meio sem paciência com ela e pais que acham que tudo isso tá virando uma festa da uva e querem levar as crianças embora dali. E por aí seguimos.
Podia ser bem cafona, podia até se transformar em algo meio moralista, se não tivesse sido criado pela Diablo Cody, a ex stripper/atendente de tele sexo que um belo dia ganhou um Oscar de melhor roteiro por Juno (acredita, Bruna Surfistinha!) e foi de vestido de oncinha e sapatilha dourada receber o prêmio.
Eu me apaixonei pela série nos primeiro 10 minutos do primeiro episódio e virei fã incondicional. O que acontece é que essa zoeira toda vai sendo apresentada de uma forma tão leve, tão sem exageros, que o que importa no final da confusão (e olha que tem confusão nesse negócio) é que são todos seres humanos. Imperfeitos, como 100% da população mundial, confusos, com todos nós, tentando descobrir uma forma de lidar com a vida e essas bombas que ela larga no nosso colo dia sim, dia não.
É tudo tão honesto que a gente acaba se envolvendo com aquela galera que mora dentro dela e reconhecendo nesse povo um pouco da galera que mora dentro da gente também. Quem nunca se achou um pouco maluco? Quem nunca se perguntou se neste ou naquele momento não havia um outro ser comandando seu próprio cérebro? Quem nunca quis poder fugir de si um pouquinho e chamar um substituto pra coordenar a sua vida?Eu sou atriz, fiz dessa brincadeira minha profissão. E acho a parte mais divertida dela poder, mesmo que por algumas horinhas, tirar férias de mim.
E aí tem gente que trabalha isso na profissão, gente que faz aula de música, que pinta, dança flamenco, se acaba no estádio de futebol, vira Ronaldinho uma vez por semana, se torna rainha do baile cada vez que vai pra balada ou descobre umas três ou nove personalidades novas pra administrar. Fato é que somos todos meio esquisitos. E extremamente interessantes, exatamente por isso.
Já viu coisa mais chata no mundo do que gente ‘normal’?

*Publicado originalmente no Portal Lia Line.

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