segunda-feira, 11 de abril de 2011

Portal Lia LIne 02 - Blue Valentine.

Passei dias com “Blue Valentine” (com o infame título em português “Namorados Para Sempre” - Derek Cianfrance, 2010) em casa até criar coragem para assisti-lo. Explico: o filme conta a história de um casal que encaminha-se para os ‘finalmentes’ do relacionamento. E eu (como metade da população feminina que me rodeia) não ando num momento muito feliz amorosamente. Ando, aliás, precisando chorar uns defuntos que – olha! – estão difíceis de ser enterrados. Enfim, deixando de lado minha vida pessoal, fui várias vezes alertada de que não seria uma tarefa fácil. E lá fui eu, bravamente munida de lencinhos, pipoca, força no coração e dois amigos fiéis pra ajudar a segurar a encrenca se o golpe fosse muito devastador assistir ao tão falado filme.
A gente percebe, logo de cara, que aquele casamento está em processo de finalização há algum tempo. E que seria preciso mais do que uma noite romântica – sugestão do marido - para salvar seja o que for que ainda exista entre aqueles dois. É obviamente perceptível que aquelas duas pessoas um dia já acreditaram se amar, mas que esse amor mora mais nas lembranças do que na vida real. E que se não tivessem uma filha provavelmente não teriam arrastado aquela situação até onde foi.
A narração passeia por dois momentos: o atual, onde tudo já está cinza e desgastado. E sete anos antes, quando se conheceram e apaixonaram. E só reforça a idéia de que existe sim, carinho e afeto, mas nada que salve aquele casamento infeliz.Aí a gente pensa: então tá fácil, minha gente! Acabou, não funciona, separa e vai viver! Como diria o mestre Cartola ‘Vai chorar, vai sofrer e você não merece. Mas isso acontece’. Bom se tudo na vida fosse fácil e prático, não?
O marido, interpretado pelo lindo do Ryan Gosling, é de uma imaturidade irritante que me fez gritar nos primeiros 15 minutos de filme. Sabe aquele tipo de homem que à primeira vista parece uma ótima ideia? Aquele cara romântico, sensível, com alma de artista, meio incompreendido pela sociedade e cheio de amor pra dar que alguns anos depois revela-se ser simplesmente um chato, que bebe as 10 da manhã, fuma demais e não consegue, por nada nesse mundo, comportar-se como um adulto?
Talvez ele tenha me irritado tanto porque reconheci ali uma meia dúzia de homens por quem eu me apaixonei perdidamente nos últimos anos. E me pergunto: por que, meu Deus? Por que eu sempre faço questão de escolher as pessoas mais erradas do mundo pra morar neste espaço tão agradável e querido que eu reservei no coração?
Um amigo me disse que o caso não é que nos apaixonamos pela pessoa errada, mas que somos as pessoas certas e de repente, não somos mais. E olha, tá bem certo ele! De onde a gente tira essa dificuldade monstruosa em aceitar que o que um dia foi certo já não é mais?
Apego. Vivemos com uma dose grande demais de apego pelo que já foi. Aconteceu, foi incrível, mudou o mundo, causou tsunamis e terremotos e morreu. E a vida segue. Ninguém morre de amor. Sofre um bocado. Dói - fisicamente até. Mas não mata.
O que mata devagarinho é a inércia, o medo de descobrir o que ainda existe pra ser vivido. Pior que a dor é o rancor que se guarda das pessoas que foram ser certas em outras freguesias. E fato é que não há nada no mundo que bons amigos e algumas doses de vodka não curem.
Final da história é que eu sobrevivi ao filme, não derramei uma lágrima e estou até agora questionando minhas fracassadas escolhas amorosas. Minha opinião é que Blue Valentine (desculpa, me recuso a usar o título em português) é um filme bonito, honesto, sem falsos moralismos. Um olhar sincero e nada piegas sobre o fim do amor. E isso já me faz gostar bastante dele. Conseguir falar de amor sem cair no lugar comum é coisa pra ser respeitada.

Beijinhos para vocês. Boa semana. E muito amor nesses corações.
(Eu não sou o Derek Cianfrance, eu sou cafona mesmo)

*Texto originalmente publicado no Portal Lia Line.

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