Estava eu firmemente decidida a escrever esta semana sobre algo muito bacana e descolado. Conversei com amigos ‘modernos’, gente fina que entende do assunto, fiz uma pesquisa básica e cheguei a uma listinha de filmes interessantérrimos que eu precisava ver! Tentei uns três (não revelarei os títulos por questões éticas e de responsabilidade jurídica) mas meu Brasil, não consegui passar da metade de nenhum.
Cheguei à conclusão (coisa que agora percebo já era óbvia há muito tempo) de que eu sou a pessoa menos cool do mundo. E olha que eu tentei arduamente parecer nem que fosse assim, de longe, com os moradores da “República Caradepaisagenlândia”.
(Deixemos claro aqui que não refiro-me a pessoas antenadas e por dentro das novidades e tendências desse mundão de meu Deus. Metade dos meus amigos é dessa estirpe.To falando daquela gente muito da cool. Sabe como? Sempre muito séria, muito superior, sempre aparentando não ter a menor paciência conosco: pobres mortais que não entendemos de nada.)
Enfim, já tentei ‘de um tudo’, mas todos os meus esforços foram em vão: Eu falo muito alto (sério. MUITO. Tive um bofe que dizia que nasci com um megafone instalado na garganta), tropeço na rua (aqueles tropeços humilhantes de dobrar o pé e pendurar-se em passantes pra não terminar de cara no chão), converso com estranhos na fila do supermercado e crio polêmicas sobre a verdadeira razão do preço da alcatra estar nas alturas, tomo sol na varanda e fico rosa, sinto medo quando escuto Radiohead (tenho uma explicação quase científica para isso, não me julguem) e minhas roupas são coloridas e descombinadas demais. E não é de um jeito cool, assim: "Descombinei de propósito porque tô nem aí pro mundo". É mais uma coisa: "Minha mãe não olhou pra mim antes de eu sair de casa”. Uma vez fui pra uma festa me achando a rainha do verão e o dono da balada anunciou quando eu entrei: ‘Olha gente! Chegou a Sarajane!’
Eu e meus amigos (que também são as pessoas menos cool do universo) reunidos e em público, deixamos clara a nossa falta de ‘blasé factor’. A gente dança de um jeito engraçado com direito a pulinhos e abraços coletivos, faz coreografias, brinca de videoclipe, de concurso de miss e de rebolado, gargalha histericamente, interage com as pessoas ao redor em tom de voz ensurdecedor (e um dia ainda vamos sofrer agressão física por causa disso), tira fotos, faz caretas, dorme escoradinho na caixa de som da boate e o mais grave dos pecados: grita “uhuuuuuuuuuul” e bate palmas. Sim, a gente grita “uhuuuuuuuul” e bate palmas cada vez que a pista é invadida por uma música da nossa playlist coletiva. E piora! Se o relógio tiver passado das 3 e a garrafa de vodka do DJ tiver passado da metade, rola um ‘CHÃO! CHÃO! CHÃO’.
Sim, eu sou uma vergonha. E antes sofria um pouco com isso. Achava que tinha problemas sérios por não conseguir me parecer com aquelas pessoas de ar interessantíssimo e auto suficiente que passam a noite encostadas no balcão do bar olhando tudo com um leve ar de desdém. Finas, ricas, muito bem vestidas.Depois de um tempo, comecei a perceber que gente cool demais na verdade é gente que não se diverte. Que passa mais tempo preocupada em manter uma pose que nem é natural do que relaxando e sendo feliz. Que aquela moça ultra blasé no balcão do bar queria era estar como eu: rodeada por gente linda que nem liga se o figurino está completamente equivocado e dançando bem feliz. E que aquele moço que adora fazer o tipo deslocado e entediado, no fundo é um tímido com problemas graves de auto estima que adoraria ser capaz de comunicar – se com o resto do planeta facilmente.
E quer saber? Vi bem mais vantagem no ‘equívoco’. E convoco meu um milhão de amigos coloridos e engraçados pra bem mais forte poder cantar: EU SOU A PESSOA MENOS COOL DO UNIVERSO!
E já que falei, falei e não disse nada sobre filme nenhum, deixo uma listinha de sugestões, livremente inspirada nos meus amigos, que não são cool, mas têm bom gosto inquestionável e talento nato para a diversão:
Mamma Mia (Mamma Mia - Phyllida Lloyd, 2008)
Hair (Hair - Milos Forman, 1979)
Onde Vivem os Monstros (Where The Wild Things Are – Spike Jonze, 2010)
Cantando na Chuva (Singin in The Rain - Gene Kelly e Stanley Donen, 1952)
Shortbus (Shortbus – John Cameron Mitchell, 2006)
Gritos e Sussurros (Viskningar Och Rop - Ingmar Bergman, 1972)
O Poderoso Chefão (The Godfather – Francis Ford Coppola, 1972)
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain - Jean-Pierre Jeunet, 2001)
Closer (Closer – Mike Nichols, 2004)
Procura-se Suzan Deseperadamente (Desperately Seeking Susan - Susan Seidelman, 1985)
O Iluminado (The Shining - Stanley Kubrick, 1980)